sexta-feira, 23 de maio de 2008

Lembranças que ficaram

Eu vi, eu vi sim, eu estava lá.
Pude presenciar a dor que ela sentiu, vi de perto toda a crueldade que algo com forma humana cometeu.
Os aviões não vomitavam pára-quedas, o mar não foi tomado por criaturas vindas de longe.
Aquilo que arrancou sua vida não parecia ter amor, e estava aqui, do nosso lado.Eu vi, não foi só um, aqueles que fizeram aquilo não tinham amor, pareciam não sentir nada, pareciam apenas máquinas, máquinas que arrancavem toda vida, todo amor, tudo o que sentíamos.
Sua família também viu, seus filhos viram, seu marido, seu pai e sua mãe.
Com choques a inutilizaram, não lhe deram nem a chance de se defendar, bateram em sua face.
Com paus eles fecharam todos os orifícios de seu corpo.
Arrancaram os fios de seus cabelos, batiam com porretes em suas costas, mas a dor parecia ser tão intensa que não se ouvia mais nenhum grito, não tinha força para isso.
Seu rosto parecia não ter mais uma forma humana.
Também vi muitas pessoas passarem por crueldade semelhante. Tive de ver e conviver com os anos que nos tiraram a liberdade, com os anos sem amor, anos tão duros aqueles foram.
Não conseguia acreditar que aquilo foi feito por nossos próprios irmãos, pessoas que nasceram e viveram na nossa nação.
Aqueles que nos defendiam, nos atacaram.
Aqueles em que nós confiávamos, nos calaram.
Aquilo não foi uma guerra como alguns deles disseram, foram obrigados a adotar essa idéia já que não podiam pensar, pois numa guerra os dois lados estão armados e nossa luta era o anseio pela liberdade, não precisávamos de armas para isso. Aquilo foi somente um ataque, vários ataques covardes.
Não quis ficar calado, eu não podia ficar calado.
Aquilo foi algo que não vou esquecer, sei que não vou esquecer. Jamais poderei esquecer minha família chorando enquanto eu, amarrado, ouvi:
-Atirem!

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